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segunda-feira, 28 de abril de 2014

Entrevistamos: Adenáuer Novaes - Psicologia e Espiritismo





Nosso entrevistado de hoje, Adenáuer Novaes, é psicólogo clínico, graduado também em Engenharia Civil (1981) e em Filosofia (1986). Autor de vários livros sobre Psicologia e sobre Espiritismo, em que apresenta uma convergência de ideias fronteiriças. Em 1995, compilando o conteúdo de livros sobre reencarnação, escreveu Reencarnação: Processo Educativo onde propõe uma visão não mecanicista sobre o retorno a um novo corpo sem a ideia de punição ou pagamento.


Na entrevista cedida por e-mail, fomos gentilmente atendidos, na qual discorreu sobre os aspectos que envolvem a Psicologia e o Espiritismo - processos de culpa, animismo, consciência  de auto-identificar-se como ser imortal e ainda a importância de ampliar o foco dos centros espíritas, além da evangelização.

“O Ser real é constituído de corpo, mente e espírito. Dessa forma, uma abordagem psicológica para ser verdadeiramente eficaz deve ter uma visão holística do ser, tratando de seu corpo (físico e periespirítico), de sua mente (consciente, inconsciente e subconsciente) e de seu espírito imortal que traz consigo uma bagagem de experiências anteriores à presente existência e está caminhando para a perfeição Divina.” Joanna de Ângelis


ENTREVISTA COM ADENÁUER NOVAES

Como aconteceu seu primeiro contato com o espiritismo?

Meu primeiro contato com Espiritismo se deu na adolescência, quando ainda não tinha consciência dos propósitos de minha vida. Na época estava cursando o segundo grau em Campinas, São Paulo. Fui conduzido por um colega a uma reunião de orações visto que me encontrava triste pela saudade de meus entes queridos que moravam em Salvador, Bahia. Posteriormente, meus estudos regulares e minha participação em grupos de estudos espíritas veio a acontecer em Salvador, quando já estava com 19 anos.

O senhor escreveu 16 livros sobre psicologia e espiritismo; na sua opinião o espiritismo vem a auxiliar as questões humanas como desencarnes, depressões, angústias, medos entre outros, como?




Psicólogo,orador e escritor espírita
Sim. O Espiritismo contribui para a compreensão de muitos processos humanos, principalmente quando afirma categoricamente a continuidade do eu após a morte do corpo físico. Porém, o conhecimento da dinâmica psíquica, a partir dos estudos da Psicologia é fundamental para a complementação daquela compreensão. 

Psicologia e Espiritismo são conhecimentos complementares e interdependentes pois, dentre outros temas, possuem em comum, o estudo do psiquismo humano.

Há um debate em relação ao diagnóstico de obsessão/possessão, incluso no CID como uma possível causa a existência de influência espiritual. Como há entre os leitores psicólogos, como, na sua opinião, pode-se chegar a este diagnóstico de forma mais clara?

A influência espiritual é temática a ser melhor e mais estudada no Espiritismo. É necessário se definir sintomas típicos para o estabelecimento de critérios diagnósticos; na realidade no CID-10 não afirma a possibilidade de influência espiritual. Ali consta, no capítulo F44 (Transtorno Dissociativos), o F44.3 (Estados de transe e de possessão) que inclui os transtornos caracterizados pela perda transitória da consciência de sua própria identidade, associada a uma conservação da consciência do ambiente. São excluídas as situações admitidas no contexto cultural ou religioso do sujeito. Para se chegar a um diagnóstico diferencial devemos considerar que, na influência espiritual que causa a obsessão, em geral, ocorre: sofrimento, prejuízos funcionais, ocorrência prolongada, perda do senso crítico, incompatibilidade com as crenças do sujeito, associação com outro transtorno psicogênico, perda do controle da consciência, indesejável e persistente. Acrescentem-se alterações no sono, ideias persistentes, à revelia do ego, e, às vezes, de autodestruição. Estes são alguns sintomas que podem contribuir para um diagnóstico mais preciso sobre obsessão espiritual.

A depressão é um dos grandes males da sociedade, que mensagem o senhor tem para transmitir sobre o tema aos leitores?

A depressão é uma doença cuja característica principal é a perda da vontade  enfrentar a própria vida. Mesmo quando se trata de pequenos episódios depressivos é também um convite ao mergulho em si mesmo para cuidar de questões não bem resolvidas do passado. Sem confundir depressão com tristeza, a cura se dará com a forte disposição da pessoa em reagir ao medo de enfrentar o que a deprime, além de integrar a sua consciência a real condição de ser um Espírito imortal.

Como vê o Espiritismo nos dias de hoje?

O Espiritismo tornou-se uma religião tipicamente adequada à cultura ocidental, mais especificamente brasileira. As instituições têm centrado sua atenção principal no processo de evangelização, com ênfase na construção da conduta cristã de seus frequentadores. Pregadores as especializam cada vez mais na exegese bíblica e no conhecimento dos princípios espíritas. É momento de ampliar o foco, para a instalação de proposta que lavem as pessoas à consciência de que são Espíritos imortais. Isso implica na inserção de novo propósito e nova forma de entender o alcance da missão do Espiritismo. Mais do que evangelizar-se, o encarnado necessita alicerçar a consciência de sua imortalidade.

Observamos que muito se fala sobre o processo anímico nas comunicações espíritas, palco de grandes debates, o senhor considera que o animismo é um processo natural?

Animismo sempre foi assunto importante nos estudos da mediunidade no Espiritismo. Componente factível de ocorrer em meio ao fenômeno mediúnico, merece atenção e compreensão pela importância psicológica que o reveste. Podemos afirmar que o componente anímico está sempre presente nas comunicações mediúnicas de efeitos intelectuais. Quando ideias são transferidas pela mente do médium, certamente ele, consciente ou inconscientemente, irá expressá-las com as capacidades intelectivas que possui. O conteúdo ou a quantidade e intensidade presente do animismo na mediunidade, quando analisados, revelarão aspectos inerentes à personalidade do médium. O animismo é algo natural, porém, para bem definir se uma comunicação é oriunda de um espírito desencarnado é preciso, não só conhecer a personalidade do médium como também a qualidade de sua comunicação.

O Instituto do Espírito permite a participação através de trocas de experiências em qual sentido, como acontece e quais seus principais objetivos?


Site: www.institutodoespirito.com.br
O Instituto do Espírito é uma instituição criada para divulgação da Psicologia do Espírito, cujo objetivo é fornecer subsídios para a compreensão da fronteira entre o conhecimento de temas psicológicos e, simultaneamente, de temas espirituais. A proposta da Psicologia do Espírito é o estudo do Espírito imortal, sem as limitações doutrinárias das filosofias e religiões que o enquadram dentro de cânones preestabelecidos. Os princípios da Psicologia do Espírito, que não é uma psicologia espírita, principalmente pela rigidez em que esta se apresenta, visam apresentar a ideia da continuidade do eu, a necessidade da conectividade com o outro para a construção da afetividade, a dinâmica da mente como órgão funcional do perispírito, bem como a construção de uma ética que não induza à culpa nem apresente o sofrimento como meio de evolução. O Instituto do Espírito está aberto a discutir e analisar estes temas através do email institutodoespirito@gmail.com

“A culpa é a base da infelicidade humana”, esta frase contida no site do Instituto do Espírito reflete um claro comprometimento da felicidade pelo que entendemos, alcançando a psique e prejudicando a existência humana – o auto conhecimento seria o caminho para uma vida saudável?

Creio que é mais do que a palavra autoconhecimento pode significar. A instalação da culpa está na base da maioria das pregações religiosas. Muitos espíritos vivem num eterno ciclo vicioso, em que o ego espera redenção de culpas cármicas, cujos processos desencadeadores não aconteceram ou não deveriam ser relevantes. O erro, o equívoco ou o mal que se fez no passado são inerentes à ignorância, razão pela qual não devem nortear o presente. Está embutida nos processos mentais uma certa "satanização" do ser humano, exigindo-lhe reparação, principalmente à custa de sofrimento. Tudo funciona na base de um Deus punitivo e de uma redenção pelo sofrimento e pesado pagamento pelos erros cometidos. Mais do que o autoconhecimento é preciso buscar o autodescobrimento, a autotransformação e a autoiluminação, além de uma mudança de paradigma dentro das religiões.


Algumas obras de Adenáuer Novaes
Como observa os estudos psicológicos que envolvem o espiritismo, há ainda um grande divisor de linhas de pensamentos como obstáculos?


Quando comecei meus estudos de Psicologia, nos anos oitenta do século passado, notei que os livros espíritas, escritos por encarnados e por desencarnados, consideravam, na análises sobre assuntos que envolviam o psiquismo humano, apenas a escola freudiana. Notei, nos anos noventa uma nova tendência, admitindo-se os preceitos da escola junguiana, denunciando um avanço significativo. Hoje, muitos escrevem sobre comportamento, sobre dinâmica psíquica e sobre psicologia sem conhecimento técnico e sem profundidade sobre esses temas. Há escritos mediúnicas sem cuidado com os conceitos originais e sem os devidos créditos de suas afirmações. Seriam bom que os Centros Espíritas incluíssem em suas reuniões, em acréscimo aos estudos existentes, temas psicológicos que abarcassem todas as escolas da Psicologia.

Que mensagem o senhor poderia deixar aos leitores do blog Luzes e site Almateca?


A mensagem não poderia ser outra senão a de que se ocupem, enquanto estudam e praticam sua religião, de integrar à consciência a continuidade do ego após a desencarnação e não deixem de exercitar o amor, pois este sentimento promove a elevação do Espírito.

6 comentários:

  1. Ótima entrevista!! Compartilhada!
    Parabenizo pelo post e entrevista, ótimo trabalho Adenáuer
    Abraços

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    1. Compartilho da opinião do Dr.Adenáuer, compartilhei também, a psicologia é uma área a ser ainda muito explorada , em minha opinião, pena que não foi abordado o inconsciente na matéria, pois tenho algumas questões respondidas pelos estudos sobre a questão do inconsciente e como ele opera diante do espiritismo.
      bjs!

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    2. Olá Ricardo,
      Agradecemos pelo comentário, as questões abordadas merecem de fato nossa reflexão.
      Abraços!

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    3. Olá, Carol.
      A questão do inconsciente é ainda um tema bastante controverso.
      Embora as escolas psicológicas concordem que de fato há processos mentais inconscientes, as que engendram um modelo para tentar explicá-los podem divergir entre si, dessa forma, o modelo Freudiano da "parte" da mente onde os fenômenos ditos inconscientes atuam é diferente do modelo de Jung. Todos eles são alvos de críticas uns pelos outros. A Principal razão para isso é que a natureza da Alma, da Mente é insondável no atual estado da nossa compreensão e essas teorias são elaboradas usando uma espécie de engenharia reversa da mente, ou seja, observa-se o comportamento da pessoa para tentar adivinhar como seria a mente, então o que se tem são modelos abstratos não unânimes sobre como seria o funcionamento da mente, assim criam uma aproximação mais ou menos verdadeira do que seria a natureza real da mente humana. Porém os processos de regressão hipnótica, principalmente os que nos fazem entrever os eventos ocorridos em vidas passadas nos dão uma boa pista sobre a real natureza da mente humana e ajudam a explicar o que é de fato esse tão famoso inconsciente(ou processos inconscientes)

      Abraço =).

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  2. Creio que Jung se aproxima mais da doutrina espírita, em razão talvez de sua mãe ser espírita, já Freud me parece que ficou "em cima do muro" diante das pesquisas.Mas o avanço demonstram os fatos,sempre, ótima matéria!

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    1. Olá Sandra! Gratos por comentar.Esta entrevista, cedida pelo querido Adenáuer nos mostra que a Psicologia é tema importante a ser debatido e considero, com lucidez. Gostamos muito das mensagens exprimidas pelo entrevistado. De fato Jung diferente de Freud se aprofundou em seus estudos e análises acerca de alguns assuntos, ambos são os ícones da Psicologia, embora particularmente falando, os exageros freudianos merecem ser rebatidos e analisados, como parte de reflexões necessárias e pessoais.
      No livro: O livro negro da Psicanálise há exatamente esta discussão.
      Sugerimos também a leitura dos livros postados na matéria, de autoria do entrevistado Adenáuer Novaes.
      Abraços!

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